quarta-feira, 4 de maio de 2011

AULA DE PORTUGUÉS - A LARANJA DA CRÔNICA - 03/05

A  LARANJA  DA  CRÔNICA Carlos Eduardo Novaes
(Prefácio do livro A cadeira do dentista e outras crônicas. Coleção "Para Gostar de Ler" – Volume 15 – São Paulo, Editora Ática, 1995.)
    São 25 crônicas que virão a seguir, escolhidas e selecionadas, como frutas para exportação, na plantação de textos do meu latifúndio literário (24 livros).
    O pomar da literatura, vocês sabem, é composto de diferentes espécies: a poesia, que, pela sua delicadeza, compara à uva; o romance, que, pela sua densidade, me lembra uma jaca (não dá para comer toda de uma vez e se presta muito para fazer doces e filmes); o conto, que, para ter qualidade, precisa ser redondo como uma lima; a novela, que, a meio caminho entre o conto e o romance, poderia ser um melão; e a crônica, que, pela variedade e popularidade, equivale à laranja.
    O conto e a crônica, como se vê, são parecidos e às vezes até confundidos sob um olhar apressado. O conto, como a lima, tem a casca mais fina e pode ser mais agradável a um paladar delicado. A crônica, casca mais grossa, não requer tantos cuidados para frutificar. Cresce até em publicações periódicas, como jornais e revistas, mas nem por isso seu valor nutritivo é menor: contém todas as vitaminas necessárias à formação de um leitor.
    As crônicas, como as laranjas, podem ser doces ou azedas; consumidas em gomos ou pedaços, na poltrona de casa, ou virar suco, espremidas nas salas de aula.
    Para quem está começando agora a percorrer os caminhos desse delicioso pomar, devo dizer que as duas dúzias de crônicas que estou oferecendo (vai mais uma de "quebra") são azedinhas, muito cítricas (ou críticas), mas, espero, bastante saborosas. Faço votos que vocês se deliciem com elas, que lhes matem a sede de leitura e – último aviso – não esqueçam de cuspir os caroços.